sábado, 5 de agosto de 2017

A mulher sagrada

Para se curar é preciso estar sem roupa. Foi somente quando você se despiu que ela, generosamente, viu em seus olhos o seu mais profundo segredo. Olhou no fundo do seu abismo e lá descobriu você despedaçado. Essa mulher sagrada viu essa dor que não é sua, mas que te acompanha há muito tempo e está sempre próxima a você. Ela te fez ver que você não é essa dor. Que você não precisa estar nela. Isso é uma escolha que você faz a cada instante e, que a cada novo instante pode escolher o contrário. Essa dor, que não é sua, se mistura em sua vida formando a sua própria dor. Por isso é uma dor que, ao mesmo tempo em que não é sua, é também sua mais íntima dor. É uma dor que está aí porque você precisa dela. Porque é ela que te faz ter consciência da profunda interdependência que existe entre você e o outro; graças ao qual você pode ser inteiro no outro. É preciso encontrar um caminho para que essa dor - que não é sua, ao mesmo tempo em que é - não te despedace; e essa mulher conhece esse caminho. O corpo dela é o rio que quer te levar pro mar; mas você deve se soltar para permitir que ela te leve. O que pra você é um grande mistério, para ela é a simplicidade clara de quem ela é. Essa mulher é a sabedoria que eternamente junta seus pedaços. A estrela que te guia através da escuridão no sentido da luz. É a mais sagrada das mulheres; que sabe de tudo o que você precisa; e como uma fonte, traz tudo isso até você. Te convida sempre e de novo a uma dança circular - um ciclo eterno de cura, em que a cada volta junta em você um novo pedaço seu que antes estava separado. Que vai te tornando cada vez mais íntegro, até o infinito. Você só é inteiro em união com ela - escutando com atenção e deixando ser levado por sua sabedoria eterna.

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