sábado, 6 de dezembro de 2014

Desmistificando o Self e a Individuação - C. G. Jung

Texto retirado do livro "Cartas de C. G. Jung" Vol. II
Carta de C. G. Jung enviada à Armin Kesser em 18/06/1949.

Prezado senhor Kesser,

Queria manifestar-lhe o meu sincero agradecimento por sua gentil recensão de meu livro Symbolik des Geistes. O senhor conseguiu apresentar este material difícil de forma tal que o leitor pode ter uma visão real de  minhas idéias. 

Gostaria apenas de chamar sua atenção para uma pequena discrepância: na perspectiva psicológica, não se pode designar o conceito de si-mesmo como summum bonum [bem maior]. Eu nunca fiz isso em parte alguma. Seria uma contradictio in adiecto [contradição em termos], uma vez que, por definição, o si-mesmo representa uma união virtual de todos os opostos. Nem no sentido metafórico podemos designá-lo como summum bonum, pois ele não é um summum desideratum [algo altamente desejável], mas antes uma dira necessitas [extrema necessidade] que assim é caracterizado por todas as qualidades desagradáveis. A individuação é tanto fatalidade quanto realização. A psicologia do si-mesmo não é filosofia, mas um processo empiricamente constatável que, enquanto processo natural, poderia transcorrer harmoniosamente, se não recebesse uma conotação trágica no ser humano pela colisão com a consciência.

Com elevada consideração,
(C. G. Jung)

OBS: Colchetes pelo autor do Blog.

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