terça-feira, 2 de setembro de 2008

A Prática e a Natureza da Mente

Todos têm a possibilidade da liberdade completa que não gozamos hoje. Neste estado atual, ainda estamos na experiência de sofrimento. Enquanto tivermos a mente consciente, a experiência de iluminação não estará separada da mente iluminada. Devido ao dualismo, não somos capazes de reconhecer isto.

A fixação dualística separa sujeito e objeto. Nossa qualidade básica é o vazio, a ausência de forma, qualidade ou ponto de referência. Quando não reconhecemos a característica de nossa mente, ficamos presos à mente dual.

Devido à característica da mente vazia, existe o surgimento não-obstruído da mente. Esta compreensão não-obstruída é que se chama de clareza ou luminosidade da mente. Não reconhecendo a existência não-condicionada da mente, temos a noção de "objeto" ou "outro" e nos fixamos nisto. A existência da mente é livre de surgimento e desaparecimento, de obstruções e sensações, e de fixação em um ponto. Assim, a natureza da mente é a inseparabilidade entre luminosidade e vazio.

Quando falamos em termos de sabedoria suprema ou verdade absoluta, falamos desta inseparabilidade. Não estamos falando de nada fora da própria mente. Tal natureza é a natureza de todos os fenômenos. Assim, focando o ponto de vista confuso, vemos imagens externas e jogos projetados pela mente.



Do ponto de vista da onisciência da mente, ter a compreensão da mente significa ter-se a compreensão de todas as coisas. Mas como já mencionei, não conseguimos reconhecer esta natureza da mente. O não-reconhecimento da natureza da mente, que está livre de ponto de referência, condicionamentos, limitações, deve-se ao apego dualístico.

A causa principal de nossa confusão são nossas tendências habituais e o apego aos três venenos: ignorância, raiva-ódio, desejo-apego.

A ausência de entendimento da mente é a ignorância. Em oposição ao entendimento da luminosidade e vazio, temos o "ego", o "outro" e os "objetos". Isto é ignorância. Assim, temos a visão distorcida e pervertida da realidade. É devido à ignorância (eu e outro, coisas), que originam-se os demais venenos, raiva-ódio e desejo-apego. O apego a eu, meu e coisas-minhas leva à agressão aos outros lá fora. Este é o mundo pelo qual a mente funciona. A mente apegada e os objetos são o mesmo. Chama-se de dupla fixação dualística a noção de ego próprio e ego dos outros e das coisas.

Usualmente, a mente é internamente influenciada e condicionada por estes três venenos. Assim vivemos.

Somos cativados magicamente por estas três tendências. Assim nossa mente opera, e assim subjuga nosso corpo, gestos e fala à escravidão. Deste modo, nosso corpo, mente e fala capitulam aos três venenos, havendo a expansão destas ações e energias-de-hábito. Isto é o que se diz não ter controle sobre nossa mente.

Ter controle é reconhecer a natureza da nossa mente que fica sempre ocupada em nossas tendências habituais.

A prática do Darma é o afastamento ao apego egoísta, ou seja, é a própria libertação. Mas, devido a estarmos apegados ao egoísmo e dualismo, não há esperança de libertação da confusão e sofrimento. (...)

*Esta é a transcrição da terceira palestra proferida por Sua Eminência Jamgon Kongtrul Rinpoche III no Rio de Janeiro, em dezembro de 1988, a convite da Ordem Monástica Karma Teksum Chohorling. Sua fala foi traduzida para o inglês por intérprete tibetano, sendo transcrita e vertida para o português pela equipe de Bodisatva e revisada por Anila Karma Tsultrim Palmo.

(fonte: http://bodisatva.org/)

**Artigo completo em: http://bodisatva.org/ensinamentos/e.php?subaction=showfull&id=1091502990&archive=&start_from=&ucat=34

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